Caros amigos, em virtude da grande aceitação que teve nossa idéia de trazer as instruções seguras sobre o tema Atendimento Fraterno, comprovado pelo grande número de e-mails que recebemos, estamos dando continuidade ao estudo deste importante tema, tendo como base o livro Atendimento Fraterno do projeto Manuel Philomeno de Miranda.
Agradecemos os contatos e solicitamos que continuem a nos falar sobre os benefícios que o estudo tem trazido para o aprimoramente desta nobre tarefa em nossas casas espíritas.
(37) - Continuação...
João Neves: — Na sua experiência tão vasta de atendente fraterno, quais as causas preponderantes que desencadeiam as aflições humanas?
Divaldo: — O egoísmo, seria a resposta de Allan Kardec.
O egoísmo é o câncer da sociedade, porque é ele que desencadeia outros distúrbios em nossa área espiritual. Éo egoísmo que responde pela nossa agressividade, porque ele nos leva ao egocentrismo, ao direito de crer que somos o centro do Universo, e de merecermos tudo e todos, tornando-nos soberbos. O ciúme também é causa infeliz, porque nos faz pensar que somos proprietários uns dos outros, dos objetos, das ocasiões e das circunstâncias; o ódio a todo aquele que não concorda conosco e nos agride é fator dissolvente e desprezível; a revolta e, conseqüentemente, a cólera fulminante, que abre espaço ao ódio, constituindo-se elemento pernicioso.
Graças a esses fatores, as enfermidades se nos alojam com mais facilidade, porqüanto o egoísmo produz enzimas destrutivas, que vêm perturbar o metabolismo e facultam campo para a instalação de doenças degenerativas. Ao mesmo tempo, torna-nos distônicos, e passamos a ter problemas psicológicos, abrindo ensejo para a vinculação com as Entidades perversas, malévolas, tendo início aí os processos de obsessão.
A Psico-neuro-imunologia identificou que possuimos na saliva uma enzima que protege o nosso organismo de infecções viróticas — a imunoglobulina.
O egoísta é introspectivo, apaixonado, indiferente aos problemas alheios.
Produz toxinas que impedirão a fabricação da imunoglobulina, deixando-o a mercê das doenças.
Por isso, Jesus ofereceu como terapia fundamental o amor, porque, quando se ama, sai-se de si para poder tornar-se útil; o individuo esquece seus próprios problemas para contribuir pela diminuição dos alheios.
Quando começamos a amar, a vida iridesce a paisagem, que se apresenta enriquecida, e as nossas pequenas dores tornam-se menores diante do volume de aflições que desgovernam o mundo.
Jesus sintetizou tudo isso de uma forma muito bela, quando os discípulos afirmaram que Ele sempre atendia as criaturas tomado por compaixão. Não esse sentimento de piedade vulgar, mas, com a paixão de ternura, com o desejo veemente de modificar aquela situação. É esse sentimento de amor que ajuda e faz que se entesoure os recursos para diminuir os sofrimentos humanos.
José Ferraz: Esta pergunta foi elaborada por Suely Caldas Schubert:
Como conduzir a orientação a uma pessoa que já tentou o suicídio algumas vezes e persiste na mesma idéia? Deve-se, de alguma forma, dizer-lhe quais as conseqüências funestas do seu ato infeliz ou ser-lhe compreensivo e consolador?
Divaldo: — A melhor maneira de consolar é advertir quanto aos riscos que advêm como conseqüências dos nossos atos impensados.
Consola-se, quando se esclarece.
A melhor forma de consolar alguém é arrancá-lo da ignorância, educá-lo.
Allan Kardec faz uma abordagem, em “O Livro dos Espíritos”, que é excelente, ao referir-se à tarefa da educação, elucidando que os males humanos decorrem da predominância dos instintos agressivos, que se sentem repelidos, como diria o psicanalista Alfredo Adier, e devem ser superados através dos métodos morais disciplinadores.
Allan Kardec se reporta à educação moral. É necessáriodizer ao paciente que ele tem o direito de interromper a vida física, mas que esse ato lhe trará tais e quais conseqüências inevitáveis.
Ele está sofrendo hoje angústia, desesperação, sente soledade, incompreensões, como colheita dos atos imprevidentes de ontem. Se complicar a atual existência com uma atitude de revolta contra Deus, a sociedade e a si mesmo, as suas penas e aflições serão muito maiores. É, portanto, perfeitamente lícito e necessário dizer-se com doçura, para não parecer que lhe estamos prometendo um castigo — como fazem algumas doutrinas do Deus terror — que o agora é colheita de uma sementeira infeliz, e que ele está tendo a opção de superar o drama ao invés de entregar-se ao suicídio, uma opção cujas conseqüências serão muito mais funestas.
João Neves: — Diga-nos uma postura adequada a assumir diante das pessoas que se vêem assinaladas por desvios da sexualidade, conflitadas com essa problemática.
Divaldo: — A postura da bondade, mas não da intimidade; compreensão, mas não conivência; espírito fraternal, mas sem estímulo ao prosseguimento do comportamento que não corresponde à ética estabelecida pela Doutrina Espírita.
O indivíduo tem direito à sua opção sexual ou a qualquer outra, pois este é seu livre-arbítrio, mas não tem o de nos obrigar a concordar com ele, de exigir que estejamos ao seu lado, a fim de que tenha uma escusa para continuar no vício.
A proposta do Espiritismo é erguer, jamais de contribuir para que se venha permanecer numa atitude cômoda, sem esforço, e de grandes prejuízos para o ser espiritual que somos, na jornada carnal em que estamos.
A continência e a fidelidade aos outros; o que não gostaríamos que nos fizessem, não lhes façamos.
Assim, a melhor atitude para acabar com o erro, é a conservação da virtude.
O melhor caminho para fazer cessar a agressividade social, é a paz de espírito, que luariza a violência e modifica a estrutura do agressor.
Seja qual for, portanto, o tipo de desvio do comportamento sexual, moral, ético, espiritual, que nos seja apresentado, a nossa atitude é terapêutica, sem conivência, repito, sem anuência, sem reproche, porque o indivíduo tem o direito de fazer da sua vida o que lhe aprouver; mas temos o dever de mostrar-lhe o caminho correto que deve seguir.
José Ferraz: — É recomendável sugerir tratamentos médico ou psicológico para o atendido? Em que circunstâncias?
Divaldo: — Quando o paciente traz um problema na área da saúde, a primeira pergunta deve ser: — Está recebendo assistência médica? — Porque o Espiritismo não é uma Doutrina que combate a Medicina, como muita gente pensa, e como durante um largo período os médicos supuseram, face ao comportamento irrelevante de alguns indivíduos que se diziam espíritas ou curadores e ficariam melhor colocados como curandeiros.
Allan Kardec escreveu que: “O Espiritismo marcha ao lado do progresso, aceita tudo quanto ele comprova, mas não se detém onde a Ciência pára, porque a Ciência estuda os efeitos e o Espiritismo remonta às causas”.
A função do Espiritismo não é curar corpos, mas animar o homem, a fim de que se autocure espiritualmente, e a saúde seja-lhe uma conseqüência da própria transformação moral.
Daí, é perfeitamente válido, e mesmo compreensível, que o atendente pergunte: — Tem recebido assistência médica? — quando o mesmo se encontre enfermo — e dizer-lhe mais: — Não abandone o seu médico, porque o Espiritismo irá também ajudá-lo, através dele, a resolver o problema.
Nos casos de natureza psicológica, nos distúrbios comportamentais, nos transtornos neuróticos e psicóticos, é justo que se pergunte também: — Já consultou o especialista? — Porque pessoas há, que ficam muito magoadas quando falamos as palavras psiquiatra e psicólo¬go.
Se ele indagar: — De que especialidade?
Responder-se-á: — Do problema que o está afligindo: o psicólogo, o psicanalista, o psiquiatra, porque, hoje a Psiquiatria, a Psicologia e a Psicanálise não têm somente a exclusiva finalidade de tratar doentes, mas de evitar as doenças que lhes são pertinentes.
Sendo possível, todos deveremos, periodicamente, consultar um psicólogo, um psiquiatra. Da mesma forma como realizamos um “check-up” para o organismo fÍsico, deveríamos fazê-lo também para o comportamental, o psicológico, o psíquico, evitando determinados distúrbios que começam sutilmente e que se podem agravar, até mesmo na área da senilidade, quando ultrapassamos determinada faixa de idade.
É válido que se sugira assistência médica, mesmo porque, em caso de agravamento do problema, ninguém pode culpar-nos de havermos negligenciado com os deveres da assistência especializada.
João Neves: No Atendimento Fraterno temos observado um medo acentuado nas criaturas humanas: medo de doença, medo da morte, medo de feitiço, medo de assumir compromissos mediúnicos em clima de respeitabilidade. Fale-nos um pouco sobre isso.
Divaldo: — A desinformação é inimiga do progresso. A desinformação é pior do que a ignorância total, porque a informação equivocada, a meia verdade são mais perigosas do que a mentira. Infelizmente, grassa em nossos arraiais a meia verdade. Existem aqueles que se comprazem em transformar a mediunidade em um instrumento divinatório, O fato de ser médium dar-lhe-ia o poder de saber tudo, de entender tudo e de resolver tudo. E uma meia verdade, O médium, como o nome diz, é instrumento, aquele que se encontra no meio.
Quando assimila a informação de que se faz objeto, torna-se instrumento lúcido; quando apenas transmite sem consciência, é instrumento automático que não lucra, que não se beneficia com a oportunidade de que desfruta.
Alguém, um dia, me disse: — Conversando com Chico Xavier, notei que ele é muito culto, que fala escorreitamente, que não comete erros gramaticais nem prosódicos, e que tem informações muito seguras; no entanto, dizem que ele tem apenas o curso primário.
Respondi-lhe: — É verdade. Ele fez o curso primário dentro da proposta convencional, mas consideremos que, desde criança, ele dialoga com os Mestres, os Espíritos nobres que vêm à Terra, e não apenas se expressando na língua brasileira, porque viveram aqui no país, mas também Espíritos de escol nas áreas da Ciência, da Filosofia, das Artes... É toda uma existência de constante aprendizagem. Quando psicografa, filtra a mensagem dos Espíritos, depois a lê, a datilografa, relê, envia-a em livro, que termina por receber, voltando a inteirar-se do seu conteúdo. É natural que aprenda.
Ele não pode ser tão rústico quanto nós. Se aprendemos o que os Espíritos escrevem por seu intermédio, lendo-lhe os livros, é óbvio que ele próprio os lendo muitas vezes, conhece-os mais do que nós. Ademais, ele interroga aos Autores, que lhe apresentam adenda, que lhe trazem esclarecimentos mais complexos, e que lhe dizem coisas que não estão escritas. Desse modo, Chico Xavier não é somente uma pessoa bem informada, é um sábio, porque oculta a sua sabedoria, evitando constranger a nossa ignorância.
É natural, portanto, que nesse trabalho do Atendimento Fraterno procuremos iluminar a própria consciência, quanto possível, oferecendo aos indivíduos uma visão qualitativa, principalmente do que a Doutrina Espírita é, do que lhes está reservado, para que, naturalmente, esclarecidos, mudem de comportamento para melhor.
Essa conquista iluminativa podemos haurir no estudo da Doutrina, na convivência com os Bons Espíritos, nos diálogos que mantemos uns com os outros, e ademais, na sintonia permanente que deveremos preservar depois que o Atendimento Fraterno termina e vamos para casa.
Livro: Atendimento Fraterno
Psicografado por Divaldo Pereira Franco
Ditado pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda
Francisco Rebouças